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  • Foto do escritorLana Capra

Outras participações

Atualizado: 3 de jan. de 2019

Escrever tem sido uma nova descoberta. Assim como nos desenhos e na tatuagem, gosto de diversificar e tentar coisas novas sempre que possível.

Quando iniciei meus escritos, uma amiga tinha um projeto iniciado que me chamou muito a atenção. Durante nossas conversas sobre sua obra, fiz uma colaboração para um dos capítulos da trama.



Uma cena aterrorizante*

A cena contada a seguir traz um conteúdo deveras violento, escrito para um triller de terror.


*Este material foi desenvolvido para apoio na obra de uma amiga. A personagem principal faz sua narrativa em primeira pessoa. Conteúdo: agressão, violência, estupro, homicídio. Todos os fatos e nomes são fictícios, criados apenas para entretenimento.



***


Era um cheiro repugnante, algo que fazia meu estomago revirar-se e trazia-me à boca um desagradável gosto de bile. Contornei as montanhas de feno espalhadas pelo estábulo e notei a um canto uma coloração escura no piso, próximo as barris antigos de vinho, que hoje serviam para guardar peças velhas de ferro dos antigos arreios dos cavalos. Afastei um dos barris e um pouco da palha que havia em volta e vi uma imensa poça negra já seca, que logo concluí que era sangue, devido à quantidade de moscas e larvas que ali se encontravam.

Pensei de imediato ser de alguma égua ou vaca que dera à luz, mas depois lembrei-me de que nenhuma de nossas fêmeas estava prenha. Um calafrio percorreu-me a espinha e, por um instante, senti as pernas enfraquecerem. O fedor aumentava conforme eu me aproximava e meu coração dava a impressão de bater em minha garganta, misturando-se à náusea crescente. Segui o rasto do sangue enegrecido por entre o feno, o que não era nada difícil, pois o som das moscas ficava mais alto a cada passo. Com um forcado, revirei o amontoado de feno até tocar em algo rígido que me fez parar de súbito. Larguei a ferramenta e, com as mãos, comecei a retirar a forragem, sentindo um pedaço de tecido nas mãos. Puxei o pano com força, com os nervos vibrando violentamente sob minha pele. Era um vestido, um vestido que eu reconheceria em qualquer lugar...

Trajando o vestido estava uma moça, em estado de decomposição avançado. Ela jazia de costas no chão do estábulo com as vestes muito rasgadas, revelando grande parte de seu corpo, nu. Não vestia as roupas de baixo e suas pernas estavam abertas, deixando à mostra seu sexo e terríveis hematomas em suas coxas e virilha. Vomitei. O pânico me invadiu antes mesmo de eu ter coragem de vislumbrar seu rosto, pois eu sabia que era ela. Annastacia, minha tia desaparecida. Seus braços estavam suspensos sobre a cabeça com os pulsos atados, mas estavam claramente deslocados e com muitas marcas de contusão. Eu não conseguia respirar, as lágrimas rolavam desesperadamente por meu rosto encharcando-me. Som algum saía de minha garganta, por mais que eu me esforçasse em gritar por ajuda.

Oh, Deus... se eu soubesse... pobre titia, Anna... me perdoe...

Caí de joelhos ao lado do cadáver. A carne tornara-se já esverdeada em alguns pontos, e havia uma grande quantidade de larvas próximas à cabeça, que estava oculta por um velho cobertor. Retirei-o de uma só vez, chorando em agonia. Vomitei novamente. Os olhos de minha doce titia estavam vidrados, eram o reflexo do pânico, agora estavam profundos e cinzentos, desprovidos de vida. Ao redor deles se podiam ver marcas de agressão bem como em seu queixo, que parecia muito torto. Quebrado. Alguns dentes estavam caídos próximos à ela. Sua garganta fora dilacerada por um objeto não muito afiado, deixando um corte bizarro e grotesco que se estendia da orelha direita até a esquerda. Os vermes deglutiam-se de sua carne e aglomeravam-se ao redor do ferimento.

A culpa me consumia. Se eu tivesse contado a meu pai sobre o romance secreto, se eu tivesse incentivado Anna a contar sobre o rapaz, se eu... se eu...

A morte já chegava a ser uma coisa corriqueira para mim, pois desde cedo me deparei com ela sem poder enganá-la, sequer desafiá-la. Mas eu nunca tinha presenciado nada assim, esta era uma face da morte que eu nem mesmo sonhava em conhecer. A dor de perder meus entes queridos em nada se assemelhava ao terror que me dominava ao descobrir o corpo mutilado de alguém tão doce e inocente como Annastacia. Eu não conseguia imaginar que tipo de criatura seria capaz de tamanha brutalidade com um semelhante, nem conseguia entender o que levava alguém a cometer tamanha barbárie.

Era monstruoso. E monstruosa seria minha vingança, se um dia eu tivesse a chance de aplicá-la.

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