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  • Foto do escritorLana Capra

Como tudo começa

Toda história precisa de um bom começo. Iniciado há 2 anos, este material é um convite para uma aventura que vem tomando forma.

Ainda sem um título, Livro 1 segue em progresso e desenvolvimento. Planejado para ser uma série, sua criação é um árduo trabalho. Leia aqui as primeiras linhas desta obra em construção!




Livro 1 - Início

Escuridão

Definição: Característica do que não possui luz;

Luz

Definição: Também pode ser considerada um fluxo de partículas energéticas.


Prólogo

Polluetur, meados do Período da Neve



De todas as poças de lodo negro borbulhante que haviam neste local, certamente aquela era a mais

fétida. Spurcitia… Bolhas gasosas subiam pelo ar pesadamente, exalando um bafo pútrido. De

textura mucosa, o conteúdo gelatinoso se agitava brutalmente, quase em ondas. Algo se movia lá dentro. Os abutres alvoroçavam-se nos galhos secos das árvores próximas, deveria ser algum animal debatendo-se para escapar, para em seguida servir de refeição para as aves famintas.

A escuridão predominava e pouco se via além dos contornos das rochas irregulares. Uma paisagem cinzenta como um deserto frio, nuvens de tempestade cobriam o céu e o vento soprava incessantemente. O som dos trovões se fundia ao crocitar frenético cada vez mais alto, criando uma sinfonia dos horrores ressoando ao longe.

Um membro de cada vez a criatura movia-se para fora, lentamente. Não se percebiam bem suas

formas ainda cobertas do lodo fedegoso, mas para os pássaros carniceiros não fazia diferença se fosse um animal com patas, cascos ou pernas. A coisa rastejou pelo chão durante poucos segundos antes que um bando de abutres arremetesse sobre ela. Enquanto eles a cercavam e bicavam, fazendo respingar lodo e pedaços de carne pelos ares, continuava a arrastar-se em visível agonia, com parte das vísceras expostas. Mais pássaros vinham em sua direção, atraídos pelo cheiro de morte e a possibilidade de uma refeição. Se a criatura era grande o suficiente para alimentar a todos ainda não era sabido mas, caso não fosse, eles se digladiariam em uma disputa mortal pelo maior pedaço de carne. Era apenas a lei do mais forte agindo no reino animal, a cadeia alimentar em sua amarga realidade. Restava-lhe pouco tempo de vida.

Chuva.

Um berço convidativo para os braços da morte.

O fedor espalhava-se a medida que sangue e lodo se misturavam. Distinguia-se de leve o contorno de asas, quebradas talvez. Dilacerada sem piedade, aos poucos seus movimentos ficavam mais lentos, já não tinha mais forças para suportar os ferimentos.

Chuva.

Do alto caíam pedras agora. Pequenas, primeiro, depois maiores, grandes o suficiente para derrubar um abutre que tentava lhe perfurar o crânio. Mais pedras vinham de cima derrubando-os um por um, até que os poucos que restaram voassem para longe desistindo do jantar.

- Sua mãe não te ensinou a não interferir nas Leis da Natureza, Sibjan? - Uma voz arrastada surgiu da escuridão... apenas uma voz.

- Como se eu tivesse mãe... - respondeu Sibjan, um sussurro vindo não se sabe bem de onde.

Com os últimos resquícios de energia que lhe sobraram, o montinho gosmento esgueirou-se até uma fenda na rocha deixando atrás de si um rastro malcheiroso. Acomodou-se o mais fundo que pôde e ali ficou, com seus grandes olhos muito abertos.

- Intervenções são o que faço de melhor, Maynu. Vamos em bora. - Concluiu.

As duas vozes misteriosas se foram, deixando o estranho ser sozinho. Sentia dor, fome, frio,

solidão... e esta não seria a última vez. Ah, como a vida pode ser cruel…


Tellus, um viva à casa

Primeiro quarto do período de florescer


Enfim, o sol resolvera aparecer. Fora um longo tempo de muita chuva, neve, frio intenso. Já não era sem tempo. As flores e demais plantas de estação floresceriam tão logo o calor do astro-rei fosse suficiente, os animais sairiam de suas tocas e aumentariam de número, flores britariam e enfeitariam as vastas florestas e campos. Era assim sempre que esta época chegava, a ordem natural das coisas, como toda a vida fluía em Tellus.

Fluidez... uma palavra fundamental neste lugar tão peculiar. Em Tellus, o fluxo de energia mantém cada coisa em seu lugar. Toda criatura, elemento e objeto são formados por energia, partículas que se unem formando tudo aquilo o que somos e conhecemos, o que tocamos, provamos, sentimos.

Com o frio chegando ao fim, as partículas movem-se mais depressa e intensamente, acumulam-se ao redor das flores fazendo-as crescer, vertendo cores sobre a terra úmida e fértil. Os passarinhos saem de seus ninhos e espalham sementes por toda a vegetação, disputando o néctar das flores mais doces com as florentia, pequeninas fadas das florestas quentes.

Rios descongelam, cachoeiras e demais quedas d´água voltam a correr livremente. Peixes se

multiplicam e os cardumes ficam mais fartos, servindo com profusão animais silvestres e humanos.

As partículas que formam as águas fluem para a terra, saciando sua sede e a de quem mais delas beberem, as partículas do ar oxigenam a água e sustentam a vida aquática, são filtradas pelas árvores e devolvidas ao ambiente para amparar a vida terrestre, nutrindo o que é necessário, equilibrando-se. Naturalmente, o equilíbrio parte do princípio da ação e reação, porém de uma forma bem peculiar. Tudo, sim, eu disse TUDO em Tellus está conectado por este equilíbrio, por uma troca de energia livre universal, a grande força cósmica que rege o Universo e tudo que nele é criado, destruído e transformado, a energia-mãe...

Supra.

Imagine por um instante uma densa poeira de brilho dourado viajando em ondas pelo ar,

misturando-se ao correr dos rios e cair da chuva, à neve que cobre o topo das montanhas e o gelo das terras mais frias e distantes. Uma poeira invisível misturada à madeira de cada tronco, às cinzas já consumidas pelo fogo, impregnada na pele, nos cabelos e unhas das criaturas habitantes deste mundo rico em diversidade... Sim, você verá!

Se pode imaginar isto será fácil compreender que a Supra é o que move a Tellus e tudo que nela habita, vivo ou não. Há muito o que discutir a respeito da morte neste lugar. Como todo ciclo, a vida tem seu início e fim sendo, naturalmente, diferente para cada indivíduo. Quando uma planta morre, sua energia vital (aquela poeira invisível) mistura-se à terra, suas partículas se espalham para que assim alimentem outras plantas, consequentemente alimentando também àqueles que as comerão.

Quando um animal morre, as coisas são um pouco diferentes (ATENÇÃO!!!! válido também para

humanos). Em contato com a terra ou fonte natural de água, o corpo sofre um curioso processo de desmaterialização. Achou estranho? Pois você ainda não viu nada. As funções vitais do corpo estão diretamente ligadas a este incrível fluxo de energia e, quando elas se extinguem, esta energia não tem mais nada a fazer naquele corpo, buscando suprir a necessidade de outros seres. Lentamente, as partículas desprendem-se do corpo e o fluxo energético se encarrega de redistribuí-la, alimentando assim a própria Tellus, literalmente espalhando a vida. Em poucas horas todas as partículas se dispersam por completo, tornando-se parte do todo.

Com o calor que chegava a esta época, a vida brotava com força e beleza. A colheita estava próxima e seria farta, haveria alimento abundante e harmonia, uma perfeição jamais imaginada. Mas, sejamos realistas, não é? Nem mesmo nos livros existe tal perfeição. Como já foi dito, o equilíbrio é ação e reação, uma balança. Se um dos pratos passa a pesar mais é sua função natural mantê-los em simetria. A tal perfeição significava que o equilíbrio era absoluto, mas por um infortúnio do destino (que você também pode chamar de “vontade absoluta do narrador”) algumas coisas não ocorreriam como o esperado.


O destino

O destino é mesmo algo fantástico, não? Se fazemos nosso próprio destino ou se somos destinados a fazer algo, permanece um mistério...

Aqui, o equilíbrio encarrega-se de tornar a vida um fardo menos pesado. A Supra, energia-mãe, é zelosa, generosa até, mas certamente cobra seu preço. O estilo de vida que cada ser leva está em constante avaliação, a contribuição fornecida ao Universo está diretamente ligada ao que ele lhe trará de volta. Isso significa que a energia oferecida espontaneamente à Supra mostra o interior, o cerne, o que está disposto à fazer para que o equilíbrio se mantenha, é uma troca. Ofereça o seu melhor e terá o melhor que a Supra puder lhe devolver. Assim se faz o próprio destino em Tellus.

Em relação a sermos destinados a fazer algo, vou lhes contar como um pequeno descuido associado a uma má decisão deram um empurrãozinho no tal chamado “destino”.

Há quase 20 anos, um garotinho ingênuo e curioso bisbilhotou o altar de cerimônias de seus pais. Ele ficava no cômodo do andar de cima da casa, bem no fundo, oculto por uma cortina negra macia. Não havia mais nada no quarto. A criança afastou a cortina e deparou-se com um corvo morto em cima de uma bandeja de prata, com um punhal estranho composto por uma lâmina de três lados de corte triangular encravada no peito. Ele tocou a lâmina com a ponta do dedo que, imediatamente, abriu-se em um fino corte. Sem perceber o corte, ele tocou no artefato à direita do animal morto, um cálice dourado cravejado de rubis, deixando resíduos de seu sangue na borda. Por último, ele segurou firme uma encantadora pedra escarlate que estava à esquerda, hipnotizado pelo brilho e pela dança das imagens que via lá dentro. Despertou do transe ao ouvir a voz do pai aproximar-se. Ajeitou tudo como havia encontrado, exceto apenas pelas imperceptíveis partículas de sangue que também ficaram na pedra.

Tempos depois este descuido haveria de cobrar seu preço. Eis então que entra a tal má decisão: uma noite, o garoto roubou a pedra vermelha e fugiu. Não se sabe dela desde aquele tempo, mas nunca deixaram de procurá-la. SIM! Falo da pedra!!! E por quê ela é tão importante? Ora... o que seria de uma boa história sem um artefato místico e misterioso? Mas algo me diz que ela logo aparecerá.

Continue por aqui, caro leitor... garanto que Tellus tem muito a contar!

E você não vai se arrepender.


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