top of page
  • Foto do escritorLana Capra

A união do amor

Neste universo inteiramente novo que mostro à vocês, alguns personagens são unidos por um laço que não se pode quebrar. Uma união com um sentimento tão puro, tão intenso, que transborda amor, confiança, beleza.

Esta particularidade dá aos personagens uma grande responsabilidade: manter o equilíbrio do fluxo energético que conecta todas as coisas, da grande força cósmica que rege este incrível universo...


A Supra.

Mas afinal, quem são os responsáveis pelo equilíbrio?

Neste mundo místico, cheio de magia e criaturas desconhecidas, entram em cena os imponentes Dragões. São seres lendários, dotados de extrema inteligência e com habilidades jamais vistas. Com uma origem misteriosa até então, eles vagaram pela Tellus seguindo um chamado em seus corações, levando-os de encontro ao seu destino.



Conheça Rogato e Amissa.

Sem dor alguma por parte da mãe, ela veio ao mundo. Muito pequena, branquinha, não chorava, não se movia. Sem vida. Era apenas uma casca oca, sua energia vital não se uniu à matéria antes de surgir neste plano. Ela estava perdida.

Recostada no leito, a mãe segurava a menina com doçura, aninhada com muito amor em seus braços. Lágrimas rolavam por sua face, a tristeza era impiedosa… Seu esposo estava sentado próximo a porta, com a cabeça enterrada nas mãos e o coração em pedaços. Chorando em silêncio, ele clamava pela essência da filha, tinha esperanças de que o Universo responderia ao seu chamado.

Toda a tribo da floresta de Nemus Salutem chamava pelo sopro de vida que faria aquele pequeno ser acordar… acenderam uma fogueira e ofertaram alimentos em honra à terra e a floresta sagrada, queimaram ervas perfumadas e dançaram ao redor do fogo, pedindo à Supra que mostrasse o caminho ao ser perdido, mas tudo em vão. Um dia inteiro já havia se passado, era hora de preparar o local onde o corpo físico deveria se desmaterializar. O casal pôs delicadamente o frágil corpo da menina no berço que haviam feito para ela, colheriam algumas flores do lado de fora da cabana para colocar junto a ela sobre a terra.

Puseram no chão uma linda coroa feita com as flores, em círculo. Estavam quase acabando quando ouviram passos próximos à porta. Uma voz grave vinha do lado de fora, um homem sentara-se na soleira e cantava uma canção. Era o xamã que, como um último ato de esperança, entoava o Dilectio, cânticos do amor que estava presente nos doces corações do povo Nemore, amor que espalhava-se pelo ar aquecendo a atmosfera ao redor da aldeia. Enquanto ele cantava, os aldeões cruzavam suas mãos sobre seus corações, alguns ajoelhavam-se e outros entoavam, juntamente com o shaman, o mantra de chamamento. O vento diminuía, os animais da floresta estavam todos quietos, quase nenhum som se ouvia, a não ser a canção.

Ubi est

Audi vocem meam, noli timere, venit

Se quuntur vocem meam

amoris vocat vos, nobis tibi

Caritate vestra et, salvabit nobis

noli timere, nobis tibi

tuam amoris

Quando ele silenciou, uma reconfortante sensação pairava pelo ar, parecia que tudo estava em seu devido lugar, exatamente como deveria estar… o silêncio era absoluto agora, nem mesmo a respiração dos habitantes da aldeia era ouvida. Havia um calor agradável ao redor de cada um deles, era como ser abraçado depois de passar por um longo período de solidão.

Ao longe ouviu-se novamente o som do vento, estava ficando mais alto, mais forte, mais rápido. Algo se aproximava. No céu viam-se nuvens densas brancas como algodão e uma sombra, que dançava em meio a elas. Era uma sombra esguia e comprida, que claramente ia em direção à aldeia. Lentamente ela descia, revelando-se uma criatura alada de grandes proporções. Draco. Cada vez mais perto... o som do vento era de seu bater de asas, mais forte, mais alto, hipnótico. Estranhamente, ninguém se moveu quando a criatura pousou diante do abrigo onde a menina sem vida se encontrava, eles sabiam que ficaria tudo bem, sentiam em seus ossos.

Tinha uns nove metros do chão até o topo de sua cabeça, corpo esguio repleto de escamas duras e um majestoso par de asas de tom verde-esmeralda um pouco mais claro que de sua pele. A cauda tinha, pelo menos, vinte metros e estava inquieta, movendo-se para lá e para cá levantando rajadas de poeira. O dragão olhou em volta para os humanos que estavam a observá-lo, sentiu seus corações e sua tristeza. Dirigiu-se à entrada da tenda feita de madeira e couro de animais de caça, onde estava a menina sem vida. Bem devagar ele passou sua enorme cabeça pela entrada, seus olhos inspiravam gentileza.

Lá dentro estava o berço da menina, bem no meio da tenda, feito de galhos trançados e feno fofo. Sua mãe estava sentada no chão ao lado do berço acariciando o rostinho da filha, com lágrimas nos olhos já tão inchados. O pai estava de joelhos ainda com as mãos sobre o peito, pedindo forças ao Universo. Os dois fitaram sem espanto a grande criatura verde que os visitava, como se já esperassem por ele. Acompanharam com o olhar seus movimentos até ele chegar bem perto da criança.

Olhando-a como se já a conhecesse, ele sorriu. Uma enorme lágrima rolou de seu olho direito e caiu sobre a criança, molhando parte de seu corpo. Ele soprou uma brisa fresca na direção dela, bem de leve, durou apenas poucos segundos. Fechou seus olhos e, desta vez, soprou uma brisa morna e reconfortante. Tocou o focinho na pele da menina e então algo aconteceu. Uma centelha rosada se acendeu no peito da criança e foi crescendo, brilhando mais e mais intensamente, preenchendo todo seu frágil corpo. Sua pele aquecia-se, inundada pelo calor da centelha. Choro. Primeiro bem baixinho e, segundos depois, já tornavam-se quase gritos. Sim, a criança vivia, e chorava a plenos pulmões! A luz brilhante apagava-se devagar e o dragão verde observava a mãe pôr a menininha no colo, chorando de felicidade enquanto o pai beijava a terra, agradecendo pelo milagre.

O dragão retirou a cabeça da tenda e esperou pacientemente até o casal sair com a criança viva nos braços e apresentá-la ao restante do povo da aldeia. O xamã aproximou-se com cautela, para conhecer aquele que atendera ao seu chamado.

- Seja bem-vindo à nossa humilde aldeia. Sou Demarato, Conselheiro-chefe de Nemus Salutem. - ele fez uma leve reverência, em respeito ao ser que ali chegara. Mesmo com toda sua idade avançada, ele jamais havia visto um dragão, apenas ouvia as histórias que seus pais contavam quando ela ainda era criança.

- Saudações aos Nemore. Sou Rogato, o Dracontium. - disse o Dragão Verde fazendo uma mesura com a cabeça. Sua voz era grave e suave, bem menos intensa do que se poderia esperar para uma criatura daquela magnitude.

- O Universo foi generoso conosco, grande Dracontium. Sua presença enche nossos corações de felicidade. As lendas contam sobre uma criatura lendária que, virá em nosso auxílio quando a esperança for tudo o que sobrar. Este ser é você? Como você trouxe a vida de volta à criança?

- Talvez um dia, bondoso homem, todos nós possamos saber esta resposta. Não sei exatamente quem sou, para dizer a verdade. O que sei é que, quando toquei este pequeno ser de carne, vi a energia do Universo fluir livremente pela Tellus, sabia que poderia dar-lhe vida pois fui trazido até aqui com este propósito. É como se a vida dela tivesse nascido junto à minha e, quando nos tocamos, nossas vidas ligaram-se de uma maneira que nada poderá separar, somos parte um do outro agora.

Demarato assentiu. Por toda sua vida, ele dedicara-se aos estudos místicos da energia do Universo, mas ainda não sabia todas as respostas. Era a primeira vez que via a vida fluir de uma criatura à outra (além do parto), ainda mais se tratando de um dragão! Era absolutamente fantástico, sentia-se privilegiado por ter a oportunidade de presenciar tal episódio.

O povo estava feliz, os pais da menina derramavam lágrimas de alegria, o sol brilhava forte. Muito amor e bondade estavam presentes, a vida fluía. Quiseram eles que o grande Dragão Verde lá permanecesse, e assim ele o fez. Pediram-no que desse nome à menina, pois sem ele não haveria vida nela. Amissa, foi como ele a chamou, e não saiu mais de seu lado. Ela crescia a cada dia e ele a acompanhava sempre. Estava lá em seus primeiros passos, sua primeira palavra, todos os momentos importantes de sua vida. Cresceram amparando-se um no outro, tinham sempre um ao outro, uma ligação de amor incondicional.


***


Desde muito jovem ela tinha sonhos, Rogato lembrava-se bem. Seus sonhos eram reais até demais as vezes, quando acordava aos gritos, chorando muito, contando que havia escapado de corvos, ou animais selvagens, muitas vezes apresentando as marcas físicas dos ataques noturnos. Sonhava também com coisas que iam acontecer, mas nem sempre com clareza, eram mais como imagem nebulosas que iam conectando-se a fatos do dia-a-dia, como um dejavu.

Levaram algum tempo para descobrir que estas estranhas imagens e sonhos eram, de fato, vislumbres do futuro. Ela sentia muito medo de suas habilidades, por essa razão não costumava compartilhar com a família, nem mesmo com Rogato, suas estranhas visões. Por um tempo instruiu-se junto a Demarato, a fim de entender melhor o que se passava com ela. Amissa compreendia que a magia lhe era natural, que a Supra lhe havia sido generosa ao permitir que a vida lhe fluísse e lhe dera tanto talento, mas não sabia o que realmente fazer com o poder que o Universo lhe concedera. Estudavam a magia da floresta, ele mostrava a ela como espalhar energia da terra, fazendo florescer plantas e fortalecendo os animais, que tinham uma extrema adoração por ela, vivia cercada deles, desde pequenos roedores até grandes mamíferos e bandos inteiros de pássaros.

Enquanto crescia, ela e o dragão aprendiam com o xamã os segredos da magia das plantas, do cultivo dos alimentos para a aldeia (acreditem ou não, fundamental para a sobrevivência do povo), mas os sonhos ainda eram um mistério a ser revelado e dominado. Em seu aniversário de 27 anos, Demarato deu-lhe de presente um saquinho verde-escuro, com vinte e cinco peças angulares, feitas com nós de árvores da floresta sagrada. Cada uma delas continha um símbolo que, segundo ele, poderiam auxiliar na busca de seu caminho, no autoconhecimento, na interpretação de seus sonhos até. De início ela não sabia o significado dos símbolos, mas empenhou-se ao máximo para compreendê-las. Passava tardes inteiras sentada as margens do lago estudando-as, meditando sobre seu formato, sobre os desenhos gravados à mão em cada uma,

A ligação com Rogato era algo tão singular e tão especial, que ninguém além do povo Nemore sabia de sua existência. - “...os olhos do mundo ainda não estão preparados para ver algo tão sublime como esta criatura. Eles o aprisionariam, como uma aranha faminta que enrola sua presa firmemente na teia, sugariam tudo que há de bom em seu interior, para só então cuspir seus ossos e carcaça. O homem tende a destruir aquilo que teme...” -

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page